PRESENÇA DO BANCO DO BEBÉ NO CICLO “LÍDERES NO DIRETÓRIO SECTOR 3”

CAPACITAR… Amando e Dignificando… O Banco do Bebé Permanece com as Famílias!

Quando, há cerca de 18 anos cheguei ao Banco do Bebé para fazer voluntariado, rapidamente me apaixonei por todo o trabalho que era realizado nesta associação e percebi a importante resposta de Marina Arnoso e Luisa Lancastre, após um desafio da Dra. Maria José Nogueira Pinto, no sentido de criar um corpo de voluntariado na Maternidade Dr. Alfredo da Costa.

Um passo não menos importante veio a seguir, com a iniciativa de tornar este corpo de voluntariado e todo o trabalho que já era realizado na altura, numa IPSS. A ideia nasceu, concretizou-se e hoje, 30 anos depois a IPSS Banco do Bebé continua o seu trabalho diário e consistente com uma equipa técnica e com a enorme força e poder do VOLUNTARIADO que continua a ser o seu ADN.

 

Missão

O Banco do Bebé é uma associação de reconhecida utilidade pública (IPSS) que tem como missão assegurar a todos os recém-nascidos e suas famílias a dignidade necessária no início da sua vida. Começando por um trabalho importantíssimo, de apoio em bens às crianças nascidas na Maternidade Dr. Alfredo da Costa, com a entrega de um 1º apoio, constituído por um enxoval de bebé e uma alcofa entregue a cada bebé que nasce de famílias sem recursos, a associação não parou, não estagnou e foi dando resposta aos desafios dos novos contextos de vida de tantas famílias portuguesas. Famílias de uma faixa social mais desprotegida, com crianças recém-nascidas e necessitar de um acompanhamento mais próximo e seguro.

Assim nasce o Apoio Domiciliário…

Iniciado em finais de 2002, o Projeto Apoio Domiciliário surgiu da necessidade sentida pelo Serviço de Pediatria da Unidade de Neonatologia (UN) da Maternidade Dr. Alfredo da Costa (MAC) em dar continuidade aos cuidados prestados aos bebés internados nesta unidade e às suas famílias, na fase pós-alta, em seu contexto natural de vida.

Entre 2012 e 2014 o Banco do Bebé foi confrontado com um aumento considerável do número de famílias referenciadas pelas instituições parceiras, um aumento da ordem dos 40% que resulta do contexto de crise que o país e as famílias atravessam.

O Banco do Bebé alarga a sua intervenção criando protocolos com outras Unidades Hospitalares, como sejam o Hospital de Santa Maria e o Hospital Beatriz Ângelo e outras instituições como sejam a SCML, alguns Núcleos de Risco (NACJR) integrados nos Centros de Saúde, bem como as CPCJ’s.

DA PREMATURIDADE AO RISCO SOCIAL…

Durante os primeiros anos do Projeto, pelo facto de ter surgido na Unidade de Neonatologia da MAC, os principais destinatários foram bebés prematuros, bem como as suas famílias, tendo como objetivo capacitar os pais nos cuidados aos seus bebés e proporcionar, um ambiente facilitador de um adequado e saudável desenvolvimento do bebé.

À medida que o Projeto se foi alargando a outras Unidades de Saúde e a outras Instituições de apoio à família o Banco do Bebé foi desafiado a dar resposta a outro tipo de situações. A realidade social que hoje vivemos, com redes familiares e sociais precárias aliadas à frágil situação económica das famílias e baixo nível de escolaridade são fatores de risco para bebés e crianças nos primeiros anos de vida e são fatores de referenciação para a intervenção do Banco do Bebé no âmbito da sua intervenção domiciliária.

CAPACITANDO e levando à AUTONOMIA…

Este trabalho diário é levado a cabo por uma equipa técnica multidisciplinar e com uma comprometida equipa de voluntários que todos os dias numa relação de confiança e proximidade com cada família, promove as competências parentais de, partindo daquilo que são as suas necessidades e preocupações.

Todo este trabalho é realizado com um objetivo principal de dotar as figuras parentais de competências emocionais e sociais para poderem responder às necessidades do seu filho com vista à sua autonomização. Fazemos este trabalho, promovendo no contexto natural de vida das famílias as condições facilitadoras de desenvolvimento.

A intervenção inicia-se após aceitação da família e preferencialmente antes da alta do bebé. Traduz-se no acompanhamento em domicílio que é complementado com o apoio em bens já que na sua grande maioria são famílias de estratos sociais muito desfavorecidos. O plano delineado pela equipa multidisciplinar não é imposto. Iniciamos o percurso partindo das necessidades e expetativas expressas pela família, tentando naturalmente garantir que as questões prioritárias para o melhor desenvolvimento do bebé e das crianças sejam acauteladas, minimizando os fatores de risco que perturbem a sua qualidade de vida.

A nossa forma de trabalhar é sempre um trabalho em rede, no sentido de envolver e ligar a comunidade no processo de intervenção fortalecendo a rede Hospital-Família-Comunidade por forma a otimizar os recursos existentes, contribuindo assim, para uma melhoria da qualidade de vidas destas famílias.

A FAMÍLIA está no CENTRO…

A família, está portanto no centro desta intervenção e o papel da equipa do Banco do Bebé é sobretudo estabelecer pontes entre a família, a unidade hospitalar, as unidades de saúde e os apoios comunitários formais ou informais, sendo objetivo central da intervenção capacitar os pais ou figuras parentais nos cuidados aos seus filhos, autonomizando-os face à nossa intervenção.

Este trabalho diário, de persistência e proximidade só se consegue quando é estabelecida uma verdadeira relação de confiança entre a família e a equipa que a acompanha.

Tem sido de facto um trabalho de equipa, muito desafiante, com algumas frustrações pelo caminho, mas que de facto tem a enorme recompensa diária de validarmos que podemos ajudar estas famílias a fazerem verdadeiras mudanças nas suas vidas.

Fazer caminho com cada uma, tratando-as pelo nome e não como um número, escutando-as, devolvendo-lhes muitas das vezes uma dignidade que estava perdida ou esquecida, em mil e uma mudanças de casa, em relações afetivas que não foram construtivas, em enormes dificuldades, que quando estão sozinhas e sem ninguém que nos ajude a discernir o que pode ser melhor, se agigantam nas suas cabeças.

O CAMINHO PROPOSTO e POSSÍVEL…

Através de uma visita semanal presencial, há possibilidade de criar relação, perceber as dificuldades e as possibilidades “in loco” e apoiar as famílias na prestação mais segura de cuidados aos seus filhos. A intervenção domiciliária do Banco do bebé vai muito para além dessa vertente e faz um acompanhamento global das famílias, apoiando-as na sua legalização, quando disso se trate e na articulação com outras instituições da comunidade, passando pela integração das crianças nos equipamentos educativos, acompanhamento às diversas consultas nas Unidades de Saúde, procura de emprego, elaboração de CVs, bem como um apoio muito importante em bens essenciais e Banco Alimentar para as crianças destas famílias.

Um dos aspetos que se torna facilitador da intervenção é de facto a relação de confiança que se estabelece com cada técnico ou cada voluntário, pois partimos dessa base de verdade e confiança para todo o acompanhamento.

A Covid- 19 não interrompeu a Missão do Banco do Bebé.

O Banco do Bebé, como todas as outras instituições, viu chegar a pandemia e em Março deste ano, tal como tantos outros, teve de se reajustar ao “novo normal” e a outras formas de estar próximo das famílias que acompanha e que nunca poderia deixar. Reinventou-se, mudou formas de acompanhamento, continuou com as famílias dando-lhes presença, calor e segurança, numa altura tão conturbada e dura para quem tantas vezes, vive com tão pouco. Estamos prontos para continuar a trabalhar, de certeza mais fortes, focados, cheios de esperança e confiança no futuro, que sabemos desafiante e cheio de incertezas. A equipa do Banco do Bebé, está disposta a continuar com muita alegria e força a sua missão sabendo o impacto da nossa ação na vida das famílias que acompanhamos e por quem também nos sentimos responsáveis.

Prontos para continuar este caminho no sentido da sustentabilidade

O Banco do Bebé desenvolve a sua atividade sem qualquer apoio estatal e a ideia de que uma IPSS possa desenvolver a sua atividade assistencial, sem um apoio estatal, não é de facto real. Nesse sentido, fazemos atualmente esforços para que o apoio estatal aconteça através de um protocolo que venha a ser estabelecido com a Segurança Social.

O Banco do Bebé mantém a sua intervenção em diferentes áreas, que num todos são ricas e se completam, intervindo através do Apoio Domiciliário, Apoio Psicossocial, Voluntariado presencial nos diversos serviços da Maternidade Alfredo da Costa (MAC), Apoio de Bens e Apoio ao Banco de Leite Humano da MAC. Todo este trabalho é realizado em CADA DIA, com um enorme profissionalismo e entrega de uma equipa de 7 técnicos e 76 voluntários, abrangendo em 2019, 428 famílias, com o significativo número de 4900 visitas domiciliárias e apoio de 1915 Cabazes de Bens essenciais entregues às famílias.

FAZER A DIFERENÇA NA VIDA DE ALGUÉM….

De todos estes anos de presença no Banco do Bebé, que já são alguns, aquilo que tenho recebido tem sido imensamente rico e tem sido uma experiência pessoal e profissional inigualável.

Agradeço a cada VOLUNTÁRIO, aquilo que me ensina com a sua entrega, o seu compromisso e a sua generosidade!

Agradeço profundamente aquilo que me é dado viver e aprender todos os dias com cada FAMÍLIA: a sua perspetiva, a sua forma de ver o mundo, os seus hábitos, os seus costumes e principalmente os seus sonhos. Ajudar a resgatar e verbalizar sonhos que cada família encerra e poder ajudar a voltar a confiar e ver alguma luz, quando tudo por vezes é tão escuro e sem sentido.

Trabalhar sempre com a certeza de que cada família, tem SEMPRE alguma coisa positiva e que será SEMPRE importante trabalhar com qualquer família partindo das suas forças e nunca das suas fraquezas. Estaremos sempre por um período limitado na vida das famílias, por isso nós corremos os 100metros e elas correrão a Maratona!

Os sorrisos no fim de cada visita, o agradecimento e o olhar de esperança que tantas vezes presenciamos, fazem-nos acreditar que o caminho é por aqui…

Deixo como inspiração, um texto que me tem acompanhado e que tanto me toca…

Para ser grande, sê inteiro

Para ser grande, sê inteiro: nada

Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa. Põe quanto és

No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda

Brilha, porque alta vive

(Ricardo Reis)

Por Cristina Maltês, coordenadora do Apoio Domiciliário no Banco do Bebé em Sector 3

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